Meridiano Vesícula Biliar
Construir Meridianos de Acupuntura
construir meridianos de acupuntura usando a vesícula biliar como exemplo não é mais do que uma brincadeira e um desafio com base em artigos anteriores. Durante um tempo construir meridianos de acupuntura foi quase um desporto para mim! Tenho vindo a escrever sobre a origem dos vasos longitudinais (meridianos de acupuntura) e nas observações clinicas que lhes deram origem. Muitas pessoas podem ser contra a história ou podem preferir a história que a MTC foi passada aos chineses por uma qualquer civilização avançada.
Ao pensar em construir meridianos de acupuntura decidi usar a vesícula biliar pois é aquele que costumo usar como apresentação nas minhas aulas. Para esta tarefa vou construir o meridiano baseado somente nas possíveis observações clinicas que lhe deram origem e depois será feita uma comparação com o seu trajeto já definido nos moldes culturais chineses.
Existem várias observações clinicas necessárias para se construir meridianos de acupuntura, nomeadamente da vesícula biliar: pontos gatilho, trajeto da dor, resposta imediata à puntura (sensação de choque elétrico, por exemplo), identificação de pontos locais no alivio de sintomas.
Ao pensar em construir meridianos de acupuntura decidi usar a vesícula biliar pois é aquele que costumo usar como apresentação nas minhas aulas. Para esta tarefa vou construir o meridiano baseado somente nas possíveis observações clinicas que lhe deram origem e depois será feita uma comparação com o seu trajeto já definido nos moldes culturais chineses.
Existem várias observações clinicas necessárias para se construir meridianos de acupuntura, nomeadamente da vesícula biliar: pontos gatilho, trajeto da dor, resposta imediata à puntura (sensação de choque elétrico, por exemplo), identificação de pontos locais no alivio de sintomas.
Construir meridianos de acupuntura – pontos gatilho
Existem alguns pontos gatilho relevantes para se ficar a conhecer o percurso do meridiano da vesícula biliar. Estes pontos gatilho estão localizados: trapézio, sub-occipitais, glúteo minimo, vasto lateral e no longo peroneal. Os dois primeiros músculos são relevantes para se compreender o percurso do vaso da VB na cabeça enquanto os outros 3 são importantes para o membro inferior.
Um dos pontos gatilho no trapézio tem uma dor muito característica: ele provoca dor ao longo do percurso do meridiano da VB passando pelo ponto 20VB e seguindo ao longo da região temporal. Este ponto gatilho também tem outra curiosidade: ele encontra-se na área do ponto 21VB. Ou seja pontos gatilho na área de pontos de acupuntura tendem a gerar padrões de dor idênticos ao percurso dos vasos a que esses pontos pertencem. Isto não é uma coincidência engraçada. É uma consequência dos chineses terem sido os primeiros a observar a existência de pontos gatilho e os terem introduzido no seu sistema de vasos longitudinais (meridianos de acupuntura).
Outro ponto, o ponto 20VB costuma ter um ponto gatilho que provoca dor na região frontal a irradiar para baixo em direção ao longo. A dor começa na região do 14VB.
Se juntar as observações decorrentes destes dois pontos gatilho então é possível ter algo como o vaso longitudinal da VB. Obviamente que existem diferenças: os pontos gatilho não provocam nenhum percurso aos zigue zagues na cabeça e falamos na associação de pontos gatilho sub-occipitais e no trapézio. Mas é inegável que a estrutura base do vaso é idêntica ao percurso da dor.
No membro inferior acontece exatamente a mesma coisa. Neste segundo caso ainda é mais declarada a relação do percurso do vaso com o trajeto de dor do ponto gatilho. No gluteo minímo, um músculo da coxa, podem surgir pontos gatilho que quando ativado desencadeiam episódios de dor no gluteo (nádegas) e ao longo de toda a face externa do membro inferior.
Em termos de vasos longitudinais o que se observa é: o ponto 29VB encontra-se numa região que desencadeia dor no ponto 30VB e ao longo de todo o vaso da VB no membro inferior.
Seguindo ao longo do vaso no membro inferior é possível encontrar outros pontos gatilho que são relevantes apesar de secundários. No vasto lateral (face lateral da coxa encontram-se imensos pontos gatilho locais que descrevem uma linha descendente na coxa) e por baixo da cabeça do peróneo, no terço superior da perna, encontra-se um ponto gatilho que provoca dor no maléolo externo.
Ou seja ao longo daquele trajeto encontramos outros pontos que fortalecem o seu percurso. Juntando todos estes pontos temos algo extremamente parecido com o percurso do vaso longitudinal da VB no membro inferior. Os pontos gatilho são muito importantes se desejamos construir meridianos de acupuntura.
Construir meridianos de acupuntura – resposta à puntura
É muito comum quando se insere uma agulha de acupuntura nos membros o paciente referir uma sensação de choque elétrico. Esta sensação de choque elétrico deve-se à puntura do nervo. Os chineses observaram que este tipo de sensações eram idênticas na maioria das pessoas e concluíram que deveria existir algo que permitisse este tipo de sensação. A sensação de choque elétrico é uma das sensações que caracteriza a chegada do qi, ou seja, que caracteriza a estimulação do qi no sistema de meridianos. Não é de admirar, portanto que, nos membros, o percurso do sistema de vasos longitudinais (meridianos de acupuntura) seja virtualmente idêntico ao percurso do sistema nervoso.
Na vesícula biliar nota-se uma concordância grande entre o percurso do vaso e o percurso do nervo peroneal superficial. O ponto 41VB, por exemplo, localizado no pé é dos melhores pontos para se conseguir estimular diretamente uma das principais ramificações do nervo peroneal superficial.
No entanto existem algumas diferenças entre escolas na localização de alguns pontos deste vaso na perna.
Se notar pela imagem pode notar que alguns pontos são descritos atrás do peróneo e outros à frente. O mesmo ponto em escolas diferentes encontra-se em locais diferentes, ou à frente ou atrás do peróneo.
Anatomicamente também se nota que existe uma grande variabilidade no percurso do nervo peroneal superficial. Provavelmente foie sta variabilidade anatómica do nervo que gerou tanta celeuma na localização dos pontos deste vaso. As sensações obtidas através do estimulo da agulha variavam muito de pessoa para pessoa sendo que umas referiam maior sensação de choque quando punturadas atrás do peróneo e outras à frente. É uma possibilidade que esta variabilidade tenha gerado estas dúvidas. A própria existência das dúvidas acerca da localização destes pontos é um indicativo forte da contribuição que estas observações acerca da puntura do sistema nervoso tiveram na formulação do sistema dos vasos longitudinais. O sistema nervoso é capaz de ter sido o maior fator para os chineses na altura de construir meridianos de acupuntura.
Construir meridianos de acupuntura – pontos distais no alívio de sintomas
Uma das observações iniciais e que qualquer um faz naturalmente é que na presença de dor a pressão local pode ser um fator de alivio grande. Este é também um dos princípios base da seleção de pontos na acupuntura tradicional chinesa e a técnica principal no alivio da dor: escolha de pontos locais.
No entanto com o tempo os chineses acabaram por conhecer outros pontos com capacidade de tratar problemas distais. Por exemplo, nos membros inferiores existem pontos úteis no tratamento de vómitos, gastralgias, dor menstrual, etc… Os chineses concluíram que deveria existir algo a ligar esses pontos. Se existem dois pontos (um na barriga e outro na perna) e ambos tratam dor de estômago então deve existir algo a ligar esses pontos. Existe efetivamente: chama-se sistema nervoso. No entanto os chineses não tinham grande conhecimento do sistema nervoso. Não sabiam que a estimulação de um ponto de acupuntura provoca o estímulo bilateral das raízes radiculares desse nervo, não sabiam da existência de viscerótomos, dermátomos ou miótomos, etc… Assumiram então, como fizeram com a observação dos pontos gatilho, que deveria existir algo a ligar esses dois pontos. Estas observações imediatas é o que nos permite compreender a forma como os chineses decidiram construir meridianos de acupuntura.
E assim chegaram a um sistema de meridianos mais complexo, onde pontos nos membros inferiores são usados para tratar sintomas localizados na cabeça ou no tronco. Por exemplo os pontos do vaso da VB são muito usados no tratamento de dor no hipocôndrio. Automaticamente temos associações entre pontos locais, 24VB, e pontos distais, 34VB, no tratamento de dor no hipocôndrio. Esta observação foi usada na construção dos vasos ao longo do tronco. Os vasos do membro inferior (bexiga, vesícula biliar, rim, fígado, etc…) todos eles tratam sintomas no tronco e automaticamente tem o percurso dos vasos descrito no tronco.
Ao olhar para a imagem do vaso da vesícula biliar é possível constatar de imediato a contribuição das diferentes observações clinicas mencionadas. Os pontos gatilho são essenciais para se compreender o seu percurso na cabeça e ombros.
Nos membros inferiores temos uma associação entre pontos gatilho e sistema nervoso enquanto no tronco predominam observações sobre eficácia clinica de pontos distais.
Obviamente que no vaso estão bem delineadas as influências culturais. Ou seja, o vaso não precisa ter 44 pontos, nem aquele percurso especifico. Se a todos nós fossem dadas as mesmas observações e a mesma dose de ignorância científica então todos definíriamos sistemas de vasos diferentes. Nuns casos os vasos teriam os nomes de órgãos enquanto noutros não. Para algumas pessoas seria necessário existir 12 meridianos regulares enquanto para outras tinham de ser 20.
É virtualmente impossível referir como ficariam os sistema de vasos de cada um mas é inegável que apesar das nuances culturais existem bases clinicas observacionais que os chineses usaram ao construir meridianos de acupuntura.
Fonte: http://nunolemos.com.pt/construir-meridianos-de-acupuntura-vesicula-biliar/
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